quarta-feira, 30 de março de 2016

Ginevra – Próximos Desafios


Encontro-me com o trabalho quase terminado. Faltando apenas os detalhes dos cachos e alguns ramos de folhas do junípero para pintar, a tela está quase feita. Porém, é justamente por causa dos detalhes dos cachos (Fig.1) que tenho procrastinado a conclusão dessa tela. Esta vai ser a tarefa mais árdua que tive em pintura até agora. Teoricamente sei que nada é diferente do que outras coisas que já fiz. Tudo se reduz a um jogo de luz e sombra, onde as cores mais escuras são postas primeiro, depois os meios tons, e por fim as luzes. O problema é que estes cachos são infinitamente finos, e irá exigir uma boa coordenação motora e olhar atento para executá-los. Mas se eu tiver êxito, sinto que poderei retratar quase qualquer coisa que quiser.

 
Fig. 1. Detalhes da obra original de da Vinci.

Na primeira postagem que fiz comentei que teria a tela pronta em um mês, mas agora vou tentar concluí-la até o fim da semana antes que o período acabe. O fator tempo também pesará na hora da execução, pois o tendo limitado, é preciso ser paciente ao trabalhar ao mesmo tempo atendendo as exigências de um período limitado.

Recapitulando algumas coisas que fiz nas últimas vezes que me sentei com essa tela, eu terminei o outro olho (Fig.2). Fiquei mais satisfeito com este atual, está mais alinhado em relação ao esquerdo.

Fig.2. Rosto com olho direito pronto.


Porém, depois de ter concluído o rosto, notei que havia um problema no ângulo do posicionamento dela (Fig.3). E como mostro nas duas imagens do busto abaixo, eu corrigi este problema delineando uma linha amarela, que estava indicando o quanto eu ia baixar a roupa dela, para poder dar a impressão de que estava inclinada.

Fig. 3. Busto com correções.


Isso muda ligeiramente a posição dela como pode ser visto na imagem abaixo, que é como a tela está atualmente:

Fig. 4. 

  Observando a obra original de Leonardo, eu também mudei um pouco a cor da vestimenta dela. Estava muito avermelhado. Então nas partes claras acrescentei mais amarelo cádmio à terra de siena, e também um pouco de vermelho cádmio, e na parte mais escura, coloquei mais azul ultramar e um pouco de preto também. 


terça-feira, 29 de março de 2016

A Presente Situação do PIBID/Artes


    No dia 10 (Quinta), deste mês, uma publicação havia sido feita na página do colegiado do meu curso no facebook anunciando que em novo documento da CAPES para o PIBID, a licenciatura em Artes Visuais havia sido retirada do programa. 

   De acordo com informações que ouvi de minha coordenadora e do coordenador de área da Universidade, esse documento havia sido apresentado em reunião interna da SEB  no início da mesma semana (dia 7, então provavelmente) como proposta para o PIBID, mas que ainda haveria uma votação nele, e que, portanto, haveria espaço para questionamentos e reformulação deste.

A comoção que os boatos de que Artes seria cortada do PIBID gerou na semana seguinte a seguinte petição pela FAEB (Federação de Arte-Educadores do Brasil).

Em reunião geral dos PIBIDs da UNIVASF, o coordenador de área deu início à reunião do dia 18 (Sexta) fazendo uma recapitulação dos acontecimentos passados em 2014 sobre os maus investimentos da CAPES com os recursos do MEC para o PIBID. Tendo redirecionado 50% dele para outros programas da CAPES, acreditando que no ano seguinte o MEC daria o valor que eles precisariam para compensar isso – o que não aconteceu e deu início a uma cadeia de eventos que geraram cortes e a possibilidade de uma gama de outros eventos acontecerem, desde cortes mais gigantescos até do cancelamento geral do PIBID. O clima era de incerteza até então.

Mas fato era que desde o dia 25 de Fevereiro, a CAPES havia publicado uma nota assegurando a permanência do PIBID em seus programas. O pior havia passado, mas o problema ainda era o documento não oficial que foi publicado na página do colegiado. Felizmente a notícia que tivemos foi que devido às pressões feitas, a CAPES em reunião no dia 17 decidiu por honrar com seu compromisso e respeitar o edital PIBID 2014/2018, que ainda reconhece a importância da alfabetização visual e a educação artística. O problema será quando este edital acabar e o próximo for feito.

A reunião foi concluída com a notícia de que deveríamos retomar nossas atividades na reunião seguinte e fazermos um levantamento de quais materiais precisaremos para nossas atividades esse ano. Fico tranquilo em ver o nosso PIBID permanecendo pelo menos por enquanto.

Outra situação que me chamou a atenção:

Este ano a Secretaria de Educação de Pernambuco abriu edital para três concursos que visam preencher 3 mil vagas para professores. Nenhuma delas é para Artes. E sabemos que não é porque não haja a necessidade de mais professores. Em minha própria Universidade há ainda essa carência. Sem falar que enquanto isso alguns ainda estão apenas por contrato.  

Fontes –






sábado, 19 de março de 2016

Saída de Emergência: Problematizando uma obra e a temática do suicídio



De início quando vi o trabalho na parede do hall, a primeira coisa que pensei foi, Ah não, mais um desses. Vários motivos me faziam não gostar daquela imagem. Duas figuras humanas feitas de fita adesiva pregadas na parede, uma masculina e a outra feminina. Uma corta uma das veias principais do pescoço, enquanto o outro cortava o pulso. Uma seta com a legenda Saída de Emergência encontrava-se do lado da faca em cada figura. Dentro das mesmas, linhas azuis e vermelhas das veias traçadas em giz acompanham o percurso da ferida infligida até o coração.




As formas das figuras com a representação das veias estão bem feitas, mas era o conteúdo que incomodava. Um ano atrás havia outro trabalho exposto no hall, Quebre em caso de emergência, que consistia de uma caixa pintada vermelho com itens sugeridos para o suicídio do espectador. Recordo dos comentários que ouvi dos alunos de outros cursos e até de alguns dos discentes de Artes também: que o trabalho banalizava o suicídio, e a imagem ficou criada dos alunos de Artes expressando seus desejos mórbidos da forma mais cliché possível, ou então que só queriam falar mal da religião ou da vida. Tanta indignação causara até que uma nota fosse colada ao lado da obra algum tempo depois de estar exposta, dizendo algo do tipo, Pra que isso?

E justamente nesta Quarta-Feira quando jantava no R.U do campus Petrolina, escutei comentários de dois estudantes de psicologia que diziam que o trabalho passava uma mensagem de banalização do suicídio. Isso me levou a pensar sobre o efeito daquela imagem, pois eu mesmo havia pensado nisso logo em seguida quando primeiro a vi. A ideia de colocar uma sinalização dizendo ‘saída de emergência’ como se estas partes do corpo fossem fáceis válvulas de escape para qualquer mal estar que a vida possa estar nos causando não me agradava. Além do que apenas reforçava a ideia dos alunos de Artes como sendo pessoas mórbidas. 

Em segundo lugar, pensei nas pessoas portadoras de distúrbio mental e transtornos do humor que poderiam tomar contato com essa bora, incluindo eu mesmo. Tendo passado por alguns períodos de depressão em minha vida, onde havia falta de animo para tudo e uma grande sensação de desgaste interno e de simplesmente querer desistir quando muitos ao seu redor querem que você continue, sei como não é fácil lutar contra tendências autodestrutivas. Sei também que em nosso curso há outros que são portadores de distúrbios mentais e pensei também em como essa imagem poderia impactá-los. A aparente banalidade com que a obra apresenta a questão do suicídio parece desconsiderar por total a luta pessoal que esses portadores têm para resistirem seus próprios impulsos destrutivos e permanecerem pessoas ativas e produtivas no mundo.

Essas foram as minhas primeiras impressões quando vi este trabalho, sem saber quem o tinha feito nem por qual motivo escolheu fazer o que fez.
                                                                                                                          
Tendo levantado todos esses questionamentos em mim, decidi dessa vez ir atrás e questionar meus colegas para saber por que trabalhos dessa natureza estavam saindo dos ateliers. A fim de escrever algo que não apenas critique a obra, mas que possa ser justo e oferecer pontos de vistas alternativos, resolvi falar com alguns colegas e com a própria criadora da obra.

Soube que o trabalho em questão foi feito por minha colega Daiane Marques, da turma de 2014.1, se não me engano. Tive a oportunidade de conversar com ela esta noite e saber o que a motivou a fazer essa imagem e o que quis passar com isso.

Coloco aqui alguns trechos da conversa que tive com Daiane, que sabendo da natureza desse ensaio consentiu que eu colocasse os comentários dela aqui:

O que inspirou você a fazer essa obra?

O trabalho foi para a disciplina de Tridimensional II. Assistimos a um filme chamado A Excêntrica Família de Antônia, que falava sobre os ciclos da vida e onde tinha um personagem que apesar de ser muito inteligente, ele se sentia solitário e não conseguia formar laços, e no fim ele opta por essa saída. A ideia para esse trabalho foi espelhado nesse personagem. Também tenho uma amiga que já tentou se suicidar duas vezes, então essas coisas me levaram a pensar nisso.

Ano passado havia outra obra exposta aqui no hall que se tratava de uma caixa de sapatos que havia sido pintada de vermelho, e dentro colocaram uns três itens – uma faca, uma tesoura e outro não recordo – e selaram com filme plástico. Ao lado colocaram uma placa ‘Quebre em caso de emergência’. Você viu esse trabalho?

Não cheguei a ver.

O que você quis falar com essa obra?

O propósito foi levantar essa questão do suicídio presente na sociedade: porque ele acontece e muitas vezes não é discutido entre as pessoas?

Você acha que conseguiu isso?

Não sei, não tenho certeza porque não recebi muitas respostas das pessoas, exceto de alguns colegas da minha turma.

Você é a favor do suicídio?

Sim, acho que devemos ter o direito de poder decidirmos sobre nosso corpo e sobre nossa vida e o que fazemos dela. As pessoas vão continuar fazendo isso mesmo sem poder ter assistência a formas mais humana e menos dolorosa. E se essa é a decisão que uma pessoa toma pra si, ela deveria poder fazer isso com assistência médica legalmente.

Já eu discordo. Sou a favor de uma pessoa acabar com sua própria vida apenas em casos de doenças terminais quando o paciente não quer prolongar mais seus dias em degeneração. Há uma clínica na Suíça que oferece assistência médica e psicológica a quem quer se matar, estando ou não em estado terminal. Eu penso que se está saudável, que a questão de tratar a mente em desequilíbrio e não desistir facilmente é importante. Quando estamos deprimidos, não conseguimos raciocinar ou avaliar a situação em que nos encontramos direito, por isso não acho certo que uma pessoa jovem e saudável faça isso com si. O problema de pessoas com depressão é muitas vezes não conseguir enxergar uma luz no fim do túnel, e isso é possível ser mudado dado a chance ao tempo, circunstâncias e condições da vida passarem.

Você chegou a pensar o que uma pessoa portadora de distúrbio mental pensaria ao ver a imagem?

Confesso que não cheguei a pensar totalmente nisso. Eu tinha mais em mente a história do personagem e o que passei com minha amiga, mas não cheguei a pensar como uma pessoa portadora reagiria.

O que mais você gostaria de dizer a respeito?

Eu acho que uma das outras questões é como você levantou, de, por exemplo, uma imagens dessas teria a capacidade de influenciar você a se suicidar se a vê-la? Até onde as imagens que vemos ao nosso redor nos influenciam e se sim, então qual é o verdadeiro poder das imagens?

Nas conversas que tive com colegas meus tanto do curso de Artes quanto de outras áreas, as opiniões foram mistas. Alguns não gostaram, geralmente citando alguns dos motivos já citados acima por mim ou alegando que a obra da forma como foi feita não transmitia ou acrescentava nada de bom. Outros viam a inventividade do trabalho, admitiam o seu tom meio negro (sem ofensa à etnia) e achavam engraçado. Até mesmo uma estudante portadora de distúrbio mental ao ser questionada disse que viu graça no trabalho tendo reconhecido a si mesma nele, ao mesmo tempo ciente das implicações mais sérias que a obra poderia causar.

Para concluir, em conversa que tive com outra colega, outro ponto em contrapartida foi apresentado. Uma visão mais neutra sobre o assunto:

O que você acha da obra exposta no hall?

Não acho nada em particular. Quem fez quis passar a mensagem que passou e fez isso da maneira que quis.

Você está dizendo que concorda com a obra, da forma como foi feita?

Eu estou dizendo que não tenho nada contra a obra. Porque você reagiu a essa obra, e não a outras como, por exemplo, ao do boneco crucificado?

Porque o trabalho toca numa questão pessoal para mim. 

Então, está vendo, se o trabalho mexe com você de alguma forma, então a obra conseguiu atingir a sua função. Há muito tempo o valor absoluto do belo deixou de ser a norma e objetivo das obras. Hoje um artista pode passar a mensagem da forma que quiser – a partir do que choca, sendo irônico, sendo feio até.

Mas e quanto aos possíveis efeitos que um trabalho feito dessa forma possa causar, como interpretar mal o que o artista quis dizer?

O artista tem o direito de dizer o que ele quiser. A expressão dele é livre. Não é culpa dele se o que ele quer passar chega de forma diferente no público, porque entre o que ele concebe e como o público recebe existe uma grande distância.

Por fim, não fecho conclusão alguma em torno desse trabalho. Ambíguo, assim como toda obra de arte, seja ela aplaudida ou vaiada, sempre estará aberta a um número indeterminado de discursos que podem ser levantados em torno dela.


segunda-feira, 14 de março de 2016

Ginevra

Bem, criei este espaço há quase um ano, mas só agora estou postando aqui pela primeira vez. Quero que este seja um lugar onde possa registrar projetos em andamento e ideias para os mesmos, pensamentos meus, o que quer que seja relacionado ao mundo das Artes Visuais e até coisas fora de tópico. Enfim, um lugar para fazer brainstorming.



Desde Dezembro do ano passado, pouco antes de entrarmos em recesso, eu dei início à Ginevra. Ela havia sido uma mulher da nobreza italiana a quem Leonardo se encarregou de seu retrato fazer como um presente de casamento de seu noivo. Muitas pessoas não gostam desta pintura de da Vinci quando eu a mostro, mas estive fascinado por este rosto desde que era adolescente. Gosto da qualidade de resignação que ela parece carregar no olhar e consigo me identificar com um mesmo sentimento destes em diversas ocasiões da minha vida que exercer essa qualidade. O fato de ter sido um presente de casamento também me leva a pensar se ela estava infeliz com a pessoa que teve que se casar. Leonardo retratou leves sorrisos no rosto da Gioconda, da Dama com Arminho e em outros trabalhos. Retratar o sorriso não era problema para ele.

O andamento da tela atualmente. 


Agora que estou pintando ela novamente. Acho que tentei umas duas vezes quando tinha quinze anos. Uma tela menor do que a atual que estou fazendo chegou a ficar pronta, mas se perdeu durante a mudança de volta para o Brasil. De qualquer forma, seu uso seria apenas para comparação, havia ficado demasiadamente feia, eu recordo. E os cachos, nem se fala. Fazia apenas um ano que havia começado a pintar, portanto não tinha nem metade da habilidade técnica que tenho hoje nem a coordenação motora boa o suficiente para trabalhar tantos finos detalhes.


Mas hoje já amadureci. Meu trabalho continua tendo muitos erros, mas o progresso é notável. Uma coisa que percebi conforme estou refazendo esse trabalho atualmente é que muito mais do que o próprio rosto dela e qualidade quase fotográfica do trabalho que o original tem, é a composição de cores. O azul do céu e lago, que embora não ocupem muito espaço na tela, mas sua presença é notada, juntamente com o preto e verde escuro do junípero atrás e as tonalidades claras da pele dela formam uma composição predominante fria e equilibrada. A pele dela é o mais envolvente, pois ela tem tantas cores presentes no rosto e olhos dela que só uma transição de um sfumato bem suave poderia conectar tantas cores sem não ficar algo gritante, como alguém que colocou maquiagem demais no rosto e ficou esdrúxula.  

Coloco aqui algumas fotos com o processo e de detalhe do trabalho. A obra é feita numa tela de madeira que mede 51 x 45 cm. A tela havia sido comprada em 2006, quando eu ainda residira nos E.U. E o início da composição se deu lá, pois foi lá onde primeiro fiz o desenho dela na tela e pintei com uma camada uniforme de vermelho. O propósito disso foi porque lembro que certa vez me deparei com um website que ensinava a técnica de camadas que os Renascentistas usavam, e eu recordo que como exemplo as imagens que eles usaram para ilustrar o processo começava com uma composição em vermelho, e depois iam construindo camadas de azul, e depois amarelo até chegar às cores ‘reais’ do tema, por assim dizer. 


Trabalho do rosto: fase inicial. 

O rosto dela sofreu várias mudanças e ainda há de sofrer mais, como visto na imagem abaixo. Eu decidi apagar o olho direito por não estar alinhado corretamente com o esquerdo e por não ter conseguido o efeito suave da transição das cores e a tridimensionalidade circular como consegui no outro. As sombras da bochecha esquerda que vão até o queixo amadureceram também, eu acentuei mais o aspecto da redondeza da bochecha subindo o sombreamento um pouco a mais na segunda imagem, além de ter intensificado a transição das sombras e cores que vão do escuro ao mais claro conforme vai chegando ao queixo. A sombra do canto direito da boca vai ter que ser suavizada, queria acentuar para mostrar aquela pequena covinha que ela tem, mas o efeito ficou demais. Do lado esquerdo parece estar melhor. E por mais que eu goste de como o lábio ficou, a verdade é que vou ter que alongar ele um pouco mais para a direita.

Antes e depois. 


Pintar as finas folhas de junípero foi um processo complicado, análogo ao que vou passar com os cachos, e ainda não os terminei. Foi difícil porque quando estava pintando eles ainda estava acostumando meu braço a se segurar por si só, sem tem que se apoiar em nada e por isso minha mão ainda tremia. Hoje já noto que consigo fazer isso bem melhor. Também o pincel que estava usando estava se desgastando, ao ponto que só restou uns dois fios de cabelo nele. Mas felizmente, este efeito trêmulo só é percebido se aproximado do quadro. Mantendo certa distância, o olho junta tudo e não parece assim. 


Rosto e folhas de junípero: detalhe

A paisagem foi a parte mais fácil, e, portanto, mais divertida.


E assim anda o progresso dessa tela. Espero tê-la concluída daqui a um mês.