segunda-feira, 14 de março de 2016

Ginevra

Bem, criei este espaço há quase um ano, mas só agora estou postando aqui pela primeira vez. Quero que este seja um lugar onde possa registrar projetos em andamento e ideias para os mesmos, pensamentos meus, o que quer que seja relacionado ao mundo das Artes Visuais e até coisas fora de tópico. Enfim, um lugar para fazer brainstorming.



Desde Dezembro do ano passado, pouco antes de entrarmos em recesso, eu dei início à Ginevra. Ela havia sido uma mulher da nobreza italiana a quem Leonardo se encarregou de seu retrato fazer como um presente de casamento de seu noivo. Muitas pessoas não gostam desta pintura de da Vinci quando eu a mostro, mas estive fascinado por este rosto desde que era adolescente. Gosto da qualidade de resignação que ela parece carregar no olhar e consigo me identificar com um mesmo sentimento destes em diversas ocasiões da minha vida que exercer essa qualidade. O fato de ter sido um presente de casamento também me leva a pensar se ela estava infeliz com a pessoa que teve que se casar. Leonardo retratou leves sorrisos no rosto da Gioconda, da Dama com Arminho e em outros trabalhos. Retratar o sorriso não era problema para ele.

O andamento da tela atualmente. 


Agora que estou pintando ela novamente. Acho que tentei umas duas vezes quando tinha quinze anos. Uma tela menor do que a atual que estou fazendo chegou a ficar pronta, mas se perdeu durante a mudança de volta para o Brasil. De qualquer forma, seu uso seria apenas para comparação, havia ficado demasiadamente feia, eu recordo. E os cachos, nem se fala. Fazia apenas um ano que havia começado a pintar, portanto não tinha nem metade da habilidade técnica que tenho hoje nem a coordenação motora boa o suficiente para trabalhar tantos finos detalhes.


Mas hoje já amadureci. Meu trabalho continua tendo muitos erros, mas o progresso é notável. Uma coisa que percebi conforme estou refazendo esse trabalho atualmente é que muito mais do que o próprio rosto dela e qualidade quase fotográfica do trabalho que o original tem, é a composição de cores. O azul do céu e lago, que embora não ocupem muito espaço na tela, mas sua presença é notada, juntamente com o preto e verde escuro do junípero atrás e as tonalidades claras da pele dela formam uma composição predominante fria e equilibrada. A pele dela é o mais envolvente, pois ela tem tantas cores presentes no rosto e olhos dela que só uma transição de um sfumato bem suave poderia conectar tantas cores sem não ficar algo gritante, como alguém que colocou maquiagem demais no rosto e ficou esdrúxula.  

Coloco aqui algumas fotos com o processo e de detalhe do trabalho. A obra é feita numa tela de madeira que mede 51 x 45 cm. A tela havia sido comprada em 2006, quando eu ainda residira nos E.U. E o início da composição se deu lá, pois foi lá onde primeiro fiz o desenho dela na tela e pintei com uma camada uniforme de vermelho. O propósito disso foi porque lembro que certa vez me deparei com um website que ensinava a técnica de camadas que os Renascentistas usavam, e eu recordo que como exemplo as imagens que eles usaram para ilustrar o processo começava com uma composição em vermelho, e depois iam construindo camadas de azul, e depois amarelo até chegar às cores ‘reais’ do tema, por assim dizer. 


Trabalho do rosto: fase inicial. 

O rosto dela sofreu várias mudanças e ainda há de sofrer mais, como visto na imagem abaixo. Eu decidi apagar o olho direito por não estar alinhado corretamente com o esquerdo e por não ter conseguido o efeito suave da transição das cores e a tridimensionalidade circular como consegui no outro. As sombras da bochecha esquerda que vão até o queixo amadureceram também, eu acentuei mais o aspecto da redondeza da bochecha subindo o sombreamento um pouco a mais na segunda imagem, além de ter intensificado a transição das sombras e cores que vão do escuro ao mais claro conforme vai chegando ao queixo. A sombra do canto direito da boca vai ter que ser suavizada, queria acentuar para mostrar aquela pequena covinha que ela tem, mas o efeito ficou demais. Do lado esquerdo parece estar melhor. E por mais que eu goste de como o lábio ficou, a verdade é que vou ter que alongar ele um pouco mais para a direita.

Antes e depois. 


Pintar as finas folhas de junípero foi um processo complicado, análogo ao que vou passar com os cachos, e ainda não os terminei. Foi difícil porque quando estava pintando eles ainda estava acostumando meu braço a se segurar por si só, sem tem que se apoiar em nada e por isso minha mão ainda tremia. Hoje já noto que consigo fazer isso bem melhor. Também o pincel que estava usando estava se desgastando, ao ponto que só restou uns dois fios de cabelo nele. Mas felizmente, este efeito trêmulo só é percebido se aproximado do quadro. Mantendo certa distância, o olho junta tudo e não parece assim. 


Rosto e folhas de junípero: detalhe

A paisagem foi a parte mais fácil, e, portanto, mais divertida.


E assim anda o progresso dessa tela. Espero tê-la concluída daqui a um mês. 

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