Bem,
criei este espaço há quase um ano, mas só agora estou postando aqui pela
primeira vez. Quero que este seja um lugar onde possa registrar projetos em andamento
e ideias para os mesmos, pensamentos meus, o que quer que seja relacionado ao
mundo das Artes Visuais e até coisas fora de tópico. Enfim, um lugar para fazer
brainstorming.
Desde
Dezembro do ano passado, pouco antes de entrarmos em recesso, eu dei início à Ginevra. Ela havia sido uma mulher da
nobreza italiana a quem Leonardo se encarregou de seu retrato fazer como um
presente de casamento de seu noivo. Muitas pessoas não gostam desta pintura de
da Vinci quando eu a mostro, mas estive fascinado por este rosto desde que era
adolescente. Gosto da qualidade de resignação que ela parece carregar no olhar
e consigo me identificar com um mesmo sentimento destes em diversas ocasiões da
minha vida que exercer essa qualidade. O fato de ter sido um presente de
casamento também me leva a pensar se ela estava infeliz com a pessoa que teve
que se casar. Leonardo retratou leves sorrisos no rosto da Gioconda, da Dama com Arminho
e em outros trabalhos. Retratar o sorriso não era problema para ele.
O andamento da tela atualmente.
Agora
que estou pintando ela novamente. Acho que tentei umas duas vezes quando tinha
quinze anos. Uma tela menor do que a atual que estou fazendo chegou a ficar
pronta, mas se perdeu durante a mudança de volta para o Brasil. De qualquer
forma, seu uso seria apenas para comparação, havia ficado demasiadamente feia,
eu recordo. E os cachos, nem se fala. Fazia apenas um ano que havia começado a
pintar, portanto não tinha nem metade da habilidade técnica que tenho hoje nem
a coordenação motora boa o suficiente para trabalhar tantos finos detalhes.
Mas
hoje já amadureci. Meu trabalho continua tendo muitos erros, mas o progresso é notável.
Uma coisa que percebi conforme estou refazendo esse trabalho atualmente é que muito
mais do que o próprio rosto dela e qualidade quase fotográfica do trabalho que o original tem, é a
composição de cores. O
azul do céu e lago, que embora não ocupem muito espaço na tela, mas sua
presença é notada, juntamente com o preto e verde escuro do junípero atrás e as
tonalidades claras da pele dela formam uma composição predominante fria e equilibrada.
A pele dela é o mais envolvente, pois ela tem tantas cores presentes no rosto e
olhos dela que só uma transição de um sfumato
bem suave poderia conectar tantas cores sem não ficar algo gritante, como
alguém que colocou maquiagem demais no rosto e ficou esdrúxula.
Coloco
aqui algumas fotos com o processo e de detalhe do trabalho. A obra é feita numa
tela de madeira que mede 51 x 45 cm. A tela havia sido comprada em 2006, quando
eu ainda residira nos E.U. E o início da composição se deu lá, pois foi lá onde
primeiro fiz o desenho dela na tela e pintei com uma camada uniforme de
vermelho. O propósito disso foi porque lembro que certa vez me deparei com um
website que ensinava a técnica de camadas que os Renascentistas usavam, e eu
recordo que como exemplo as imagens que eles usaram para ilustrar o processo
começava com uma composição em vermelho, e depois iam construindo camadas de
azul, e depois amarelo até chegar às cores ‘reais’ do tema, por assim dizer.
Trabalho do rosto: fase inicial.
O
rosto dela sofreu várias mudanças e ainda há de sofrer mais, como visto na
imagem abaixo. Eu decidi apagar o olho direito por não estar alinhado
corretamente com o esquerdo e por não ter conseguido o efeito suave da transição
das cores e a tridimensionalidade circular como consegui no outro. As sombras
da bochecha esquerda que vão até o queixo amadureceram também, eu acentuei mais
o aspecto da redondeza da bochecha subindo o sombreamento um pouco a mais na
segunda imagem, além de ter intensificado a transição das sombras e cores que
vão do escuro ao mais claro conforme vai chegando ao queixo. A sombra do canto
direito da boca vai ter que ser suavizada, queria acentuar para mostrar aquela
pequena covinha que ela tem, mas o efeito ficou demais. Do lado esquerdo parece
estar melhor. E por mais que eu goste de como o lábio ficou, a verdade é que
vou ter que alongar ele um pouco mais para a direita.
Antes e depois.
Pintar
as finas folhas de junípero foi um processo complicado, análogo ao que vou
passar com os cachos, e ainda não os terminei. Foi difícil porque quando estava
pintando eles ainda estava acostumando meu braço a se segurar por si só, sem
tem que se apoiar em nada e por isso minha mão ainda tremia. Hoje já noto que
consigo fazer isso bem melhor. Também o pincel que estava usando estava se
desgastando, ao ponto que só restou uns dois fios de cabelo nele. Mas
felizmente, este efeito trêmulo só é percebido se aproximado do quadro. Mantendo
certa distância, o olho junta tudo e não parece assim.
Rosto e folhas de junípero: detalhe
A
paisagem foi a parte mais fácil, e, portanto, mais divertida.
E
assim anda o progresso dessa tela. Espero tê-la concluída daqui a um mês.
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